Segundo um estudo mundial da empresa de tecnologia Websense, 58% dos entrevistados dizem que as infecções por vírus e outros programas maliciosos aumentaram devido ao uso das mídias sociais.
Desde que passou a fazer parte do cotidiano corporativo, a internet ajudou a maioria das empresas a melhorar sua comunicação. Mas o reverso da moeda é que isso também trouxe ameaças à produtividade dos funcionários e aos sistemas de dados das companhias. Afinal, é muito fácil distrair-se com as redes sociais enquanto as demandas de clientes e os pedidos da chefia ficam para depois. Isso sem falar nos riscos para a segurança, pois constantemente as postagens nesses canais podem levar a sites com vírus, capazes de roubar dados importantes ou afetar as redes das empresas. Até recentemente, a reação mais comum a esse tipo de desafio tecnológico foi a proibição pura e simples do acesso pelos funcionários, no horário de expediente, a sites sem relação direta com a atividade profissional. Aos poucos, porém, esse tipo de visão mais truculenta vem perdendo espaço por três razões. A primeira delas é que é impossível restringir totalmente a visitação das equipes a esses canais, pois celulares com internet estão nas mãos de qualquer um.
A outra é que essa postura contradiz o discurso adotado pelas próprias corporações, que criam seus perfis na internet e estimulam a interação com os consumidores. A terceira é de que provoca descontentamento nos empregados. Diante desse cenário, as empresas começaram a procurar o meio-termo. Uma solução encontrada é permitir, sim, o acesso às redes sociais, mas não sem antes dar orientações sobre boas práticas e cuidados que devem ser tomados nesses ambientes. “Liberar o uso das redes sociais traz muito mais benefícios do que a proibição”, afirma Cecília Dias, diretora de comunicação da Unilever, empresa que emprega 160 mil funcionários ao redor do mundo. “O que precisa haver é bom-senso.” A política da Unilever – definida pela alta direção e repassada a todos – é orientar sobre o que publicar nas redes sociais, principalmente em relação a possíveis prejuízos que suas declarações possam causar à empresa.
Por ter como base de seus negócios o relacionamento com diferentes públicos, como as revendedoras, a Natura libera e estimula o uso das mídias sociais. Com mais de sete mil empregados, a fabricante de cosméticos avalia que esses espaços são úteis para os funcionários se comunicarem com clientes, fornecedores e vendedores. Além disso, as redes sociais são consideradas um instrumento valioso para conhecer tendências e opiniões dos consumidores. “Muitas vezes, a função do profissional inclui fazer contatos com o público”, afirma Denise Asnis, gerente de recursos humanos da Natura. “Essa relação direta nos trouxe oportunidades de repensar as estratégias da operação.”
A GGD Metals, empresa brasileira do setor de aços e metais, opta por uma postura mais conservadora. A empresa instalou um cyber café em seu escritório. Lá, os funcionários visitam qualquer site durante os intervalos do trabalho. Nos demais computadores, o acesso é bloqueado. “O objetivo é disciplinar o uso das redes sociais”, afirma André Dias, diretor-geral da GGD Metals. Segundo Dias, a política não agradou à maioria dos funcionários, mas teve o mérito de acabar com alguns impasses que geravam constrangimentos entre a chefia e os comandados.
“Ao ficar no café, não há dúvidas de que o funcionário não está trabalhando”, afirma. “A ideia é chegar a um meio-termo entre a disciplina e a produtividade”, diz. Se o apoio ao uso dos sites de cunho social traz benefícios, é importante também que a empresa defina com clareza qual sua posição sobre esse assunto. Por isso, a criação de normas de utilização é uma medida bem-vinda. Em todo caso, a companhia deveria se preocupar mais com a qualidade da produção do funcionário do que com o fato de ele visitar ou não redes sociais. “O controle tem de ser feito sobre o resultado do trabalho”, diz Ricardo Almeida, diretor-geral do i-Group, consultoria especializada em redes sociais. Outro item que deixa os departamentos de TI com a pulga atrás da orelha é a segurança.
“Para instituições como os bancos, qualquer vazamento de dados é delicado”, afirma Martha Gabriel, professora de marketing digital da ESPM. Esse desafio tem feito surgir no mercado novos softwares capazes de garantir a segurança, mesmo com o acesso irrestrito às mídias sociais. Uma dessas ferramentas é da americana Palo Alto Networks. A companhia já conquistou em um ano 4,5 mil clientes, entre eles a eBay e a Qualcomm, vendendo um sistema para monitorar atividades nesses canais e em sites baseados em computação em nuvem, como o Google Docs. Com a ferramenta, as empresas podem bloquear apenas parte dos conteúdos, mantendo o acesso a tudo o que não oferece riscos. A Palo Alto, que conta com investimento do fundo de venture capital Sequoia Capital, deve faturar US$ 200 milhões em 2011 e planeja abrir capital em breve. “No fundo, é como ter um filho adolescente”, afirma a professora Martha. “Proibir não adianta, pois a pessoa acabará fazendo errado. O correto é estar por perto e orientar.”